quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Cap 1

Vou evocar voce dentro do meu coracao que é
Para ver se você acorda desse seu sono profundo.
Vou fazer concha com as maos e soprar a pequena chama esperando que labaredas virem para  me acomodar no seu calor.
Ai ela fechou os olhos e voltou a acordar naquela lembrança.
Sentada no quarto claro  de um hospital em laranjeiras
Estava ela como sempre estava após o banho.
Cabelos lavados,pó,batom,lápis e roupão de linho digno
Na dignidade absurda que todas têm logo após extrair um
Câncer de um dos seios.
Um repouso silencioso dela com ela mesma.
-É necessário despertar uma outra feminilidade.
Pela janela a rua tranquila onde vez ou outra passava um carro
Rumo ao Novo Mundo.
-vê ali minha filha,há ali uma rua, passam carros...
-sim,mãe,eu não sabia...
E ali se sentaram as duas.
Mãe e filha agora apenas na condição de mulher e mulher
A rua lá fora com vez ou outra um carro
Entre as duas a verdade silenciosa da certeza que ali começava um fim.
Hoje a filha mora na rua que também leva pessoas ao novo mundo.
E cada manhã de sol de inverno
Ela olha a rua de longe
E se lembra do cheiro de talco do pós banho
E do roupão de linho que vestia
Digno
Como bem a cabia.